O estilo de Lil Peep
Quem foi Lil Peep? Muita gente pode estar fazendo essa pergunta, agora que a morte de Gustav Ahr anda pela mídia, instagram, sites e youtube… o cara era rotulado como “futuro do emo”. Na verdade emo é a maneira que as pessoas encontram de rotular coisas que não podem ser nomeadas. Enfim, Gustav Ahr tinha um estilo bastante peculiar, que mistura elementos de rap e hip-hop com o estilo punk e emo. Eu o vejo como um crust punk com elementos hip-hop e rap (tanto nas tattoos quanto nas roupas). Sobre as cores, isso também é uma herança do hip-hop old school que se prendia muito mais às cores vibrantes e elementos escandalosos, como o Public Enemy. Infelizmente essa herança anda um pouco perdida. Quem acompanha a 1 KG por exemplo, percebe que os caras estão muito mais próximos do estilo hardcore, usam muito preto (mas isso é assunto para um próximo post). Enfim, o próprio Lil Peep fala que não tem um estilo certo para se vestir, ele era muito copiado na época de colégio e absorveu que deveria estar sempre mudando. A única coisa que importa para ele é parecer o mais punk possível.
Legendado por Kobane, Lil Peep explicando suas tattoos e estilo
Sobre a música, ah isso é bem louco…tal como o estilo. Especialistas falam que ele faz trap, um estilo instrumental experimental, que incorpora sons e onomatopeias, sintetizadores e até mesmo instrumentos de corda para criar uma atmosfera triste, sombria, cruel e sinistra. A herança do Lil Peep também alcança o pós-punk e gótico, influência assumida em suas roupas e títulos de músicas. O cara, como todo jovem de seus vinte anos é diretamente ligado na cultura de massa (e a viralização da internet e redes sociais, inclusive como plataforma de trabalho e sucesso), tendo em suas músicas títulos de quadrinhos (como a excelente Hellboy, personagem em que ele se declara fã).
Trecho da música HellBoy
O emo também é grande influência para Peep, que gosta de “My Chemical Romance” mas vejo que muitas vezes ele soa como “Good Charlotte” (tanto nas referência de videoclipes quanto na música). Ele é fã de “Joy Division” também e podemos notar muitas referências pós-punk em seu trabalho. O conteúdo do trap também um prato cheio para o rap (e para Lil Peep), possui temas como vida cotidiana, pobreza, sexo, desiguadade social, religião, violência, dificuldades e experiências do rapper na sua vida urbana. E isso Lil Peep fazia muito bem: contava experiências de vida, vazios existenciais gerados pela ausência de um amor verdadeiro (e excesso de pessoas “interesseiras” agora que havia alcançado sucesso, além do vício em drogas, a depressão, a maneira como a sociedade encara quem não se encaixa – para isso ele usa além dos lugares-comuns, o tema bruxaria em suas músicas. Então fica bem forte a questão do modernismo, o materialismo e consequente niilismo, gerado pelo esvaziamento e descentramento de um sujeito que clama por ajuda (e está aí algo para pensar, muitas vezes ele fala sobre depressão e problemas com drogas em suas músicas), tal como Kurt Cobain (que ele era fã). Dois jovens que são produtos (e vítimas) de uma sociedade alienada, que trata tais assuntos com desdém (apesar de glamourizar isso o tempo todo).
Trechos da música “The Brightside”
Trecho da música “No Respect freestyle”
Lil Peep também era bem crítico em relação a ostentação. Na mesma música (“Benz Truck”) ele se vangloria de ter um jipe “Mercedes Benz”, a mulher e os amigos que quiser, para logo depois em uma cena do videoclipe aparecer sozinho em um lugar idílico, com uma igreja ao fundo (inclusive um túmulo). Em outro trecho, posterior a ostentação, ele aparece dentro da Igreja. Ao fundo, ícones cristãos em um vitral. A crítica ao materialismo fica bem clara pelo retorno a metáfora visual extremamente forte que faz referência a morte. Como se não bastasse, a placa “All Alone” atrás dele quase no final do clipe.
Ele diz que todos o odeiam (provavelmente pela fama e dinheiro) e fala com humildade que o dinheiro que ele ganha nunca vai mudar quem ele é.
Lil Peep fazia parte coletivo do GBC, o Goth Boi Clique junto com outros caras, de nomes e estilos tão interessantes quanto ele: Wicca Phase (também adoro a vibe pós-punk dele), Lil Tracy, Horse Head e Cold hart. Esse coletivo teve a intenção de misturar emo, gótico e rap/hip-hop, se possível com mais experimentalismo e ruídos.
Lil Peep, Lil tracy, Wicca Phase, Horse Head e Cold Hart: Goth Boi Clique
Vamos ao estilo do rapaz? Amo demais! Lil Peep era apaixonado por moda: bonito, alto e magro era queridinho de estilistas pela originalidade do seu visual e suas tattoos.
Lil Peep na passarela e uma clara crítica ao endeusar astros depois da morte: “Quando eu morrer, vocês vão me amar”.
Essa é do início da carreira do Lil Peep, bem novinho. Ele começou em 2015.
Lil Peep já teve franja mais longa e cabelos coloridos, que fazem a gente lembrar bastante da onda emo de anos atrás.
Camiseta com referência pós-punk (Joy Division)
As referências cholo e a ostentação do hip-hop sempre presentes: diamante nos dentes.
Ele também poderia soar como um clubber saído dos anos 90, tal como o Keith Flint (“Prodigy”)
Ou como um cholo
Ou como um cholo pastel goth (ele usava muito rosa)
As tattoos com referências excelentes: Tanto Ed Hardy (que fez o desenho da tattoo da sua cabeça) quanto ícones da cultura de massa, cholo e punks. Ele também possui tattoos com o tema “halloween” (pois nasceu na noite do dia 31 para o dia 01/11 – seu aniversário). Outras que chamam atenção, são as tattoos de suas músicas que fizeram mais sucesso: como “Cry Baby” e “Hellboy”.
Nesse video (por FeedTheLyrics), Lil Peep fala sobre Halloween e a vez que se vestiu de Gerard Way mas ficou a cara do Eminem, rs…
As referências ao halloween são variadas: os morcegos no pescoço, a abóbora no braço, a data do seu aniversário na barriga e as caveiras são algumas delas.
Um detalhe excelente de Lil Peep é que ele pintava as unhas de vermelho, eu achei isso muita ostentação! Aqui o estilo dele está mais atual e punk.
Um colete que mistura crust punk e pastel goth
No maior estilo rapper, com camiseta de time
Tênis nike customizado com “GBC – Goth Boi Clique”, seu nome e uma teia de aranha
Enfim, as referências de Lil Peep são as mais variadas. É dificil de rotular seu estilo ou encontrar um padrão único que se repete em suas roupas. Ele gostava de bastante rosa (às vezes no look inteiro), unhas pintadas de vermelho ou rosa, roupas camufladas, coletes punks, roupas esportivas (com pegada rap e hip-hop), elementos infantis como Hello Kitty e desenhos animados, entre outros.
Lil Peep merecia ter vivido mais, mas façamos juz ao seu legado. O cara era humilde, simples e amava muito sua família (especialmente sua mãe, com quem tinha uma ligação muito bonita). Escrever sobre ele foi minha homenagem ao “Goth Boi Clique” e principalmente Lil Peep, porque eu acredito que ele era um dos melhores do estilo que fazia e iria mudar profundamente o rock através do trap. Ele é a cara do universo alternativo moderno, que cada vez mais se torna fluído e propenso as mudanças.
Referências do Youtube: Tradutores Rodrigo Castro “Pills and Knives” e Kobane
Firme! Cholas y cholos
Há algum tempo não posto no blog. Decidi voltar apesar de tudo. Não sei se perceberam o estilo da Arlequina e do Coringa em Esquadrão Suicida. Pois estou desde essa época querendo escrever esse post, pois sou fã das cholas e cholos. Para quem não conhece, estilos das gangues latinas nos Estados Unidos. Muita gente já adotou, inclusive quem não é latina como Gwen Stefani.
O clipe mais chola impossível: Gwen adere o estilo esportivo, com calças largas, tênis, touca, boné, listras em casacos esportivos e meias, bandanas e muitas jóias penduradas. O carro também é legítimo lowrider custom. Lembrando que a pin-up também usa o estilo na rotina.
As autênticas cholas latinas
O estilo de Gwen no clipe: Touca, blusa cropped, calças muito largas e tênis.
O carro custom do clipe
Pink também adere demais, primeiro porque é fã do estilo pin-up, assim como Gwen. Segundo porque é casada com o ex-piloto de motocross profissional Carey Hart e atual dono do “Hart and Huntington Tattoo”. Com eles a pegada é mais hardcore, com essa linha punk que eles curtem.
Boné de aba reta e bandana também é classe para os cholos
Boné de aba reta e roupas largas dos cholos chilenos
Também entra na lista a modelo pin-up Sabina Kelley, que sempre investiu no estilo chola usando tranças, bonés, elementos rap/hip-hop (e parece ainda mais engajada agora que namora o cholo Nixx).
Os cholos e cholas hispânicos
“A loucura é um prazer que só um louco conhece”.
Sabina faz uma releitura de Trisha da série “Orange is the New Black”, mas no seu dia a dia usa muito tranças.
As cholas também curtem tranças
Sabina fez duas tattoos de rosas no estilo mais chola possível nas laterais do pescoço e outra tattoo enorme, preto e cinza nas costas (com temática religiosa – principalmente as mãos rezando, muito comum entre as gangues latinas).
Uma versão com apenas mãos rezando: “Só Deus pode me julgar”.
Um grande salto no estilo chola, visto que Sabina é fã do colorido e old/new school. Kat Von D, chola pin-up assumidíssima no passado, ainda hoje flerta com o estilo. Não somente nas roupas mas nas tattoos que adota (e desenha), o lettering e o preto e cinza (típico do estilo). Além disso ela possui muitas tattoos com referências latinas, marcando os mesmos locais do corpo e a mesma temática.
O lettering de Kat VonD e de outro artista que aborda a cultura chola: geralmente tattoo nas costas, braços, barriga e peito.
O análogo do Brasil, “Vida Loka” é o “Mi Vida Loca”, da cultura cholo do leste de Los Angeles. Em cima a cantora Carmem Miranda, no estilo pin-up chola.
Outra característica da cultura cholo, tattoos no rosto.
Abaixo a joven Kat Von D, no estilo chola pin-up.
Por aqui a coisa chegou com o novo hip-hop (Hungria e Tribo da Periferia por exemplo) e o funk (MC Guimê e Tati Zaqui). Atualmente temos as latinas da série “Orange is the New Black” que representam o estilo das cholas como ninguém.
Marisol “Flaca” Gonzales
Dayanara Diaz
Daí fica complicado separar essa mistura de estilo que engloba uma multiplicidade cultural imensa, bem globalizado dentro do estilo urbano. Sobre as tattoos, aqui no Brasil o MC Guimê foi um dos primeiros que ficaram conhecidos por adotar tattoos semelhantes aos de gangues hispânicas como a MS-13.
Integrantes da Mara Salvatrucha na América Latina
Uma lágrima tatuada embaixo do olho pode significar que durante sua estada na cadeia o detento perdeu um ente querido ou matou alguém. Comum também na cultura chola é a admiração pelo palhaço, que teoricamente para o gangsta é uma zombaria com a polícia (aqui no Brasil também faz uma analogia com a polêmica maconha). Aqui a referência do Coringa e da Arlequina foi bem absorvida, assim como nos EUA pois os estilos dos personagens têm todas as referências cholas: das tattoos lettering em preto e cinza, tattoos embaixo dos olhos e queixo, até o estilo extravagante que adota muitas cores e brilho dourado.
Coringa e Arlequina: vida bandida (Thug Life), amor pelo brilho e acessórios extravagantes, roupas e cabelos muito coloridos, tattoos preto e cinza em um estilo “de cadeia”, especialmente no rosto. Herança do hip-hop, rap e cultura cholo.
Já as letras M e S em caracteres góticos dizem que o detento faz parte da gangue “Mara Salvatrucha”. Presentes nos EUA, El Salvador, Honduras, México e outros países na América Latina. Mesmo com muitos deles presos, a gangue tem uma rede internacional responsável por crimes como tráfico, contrabando e assassinato de inimigos de gangues rivais.
Semelhança entre o personagem “El Diablo” do Esquadrão Suicida e integrante da MS: mesmas referências cholas para tattoos.
Outros integrantes da gangue “Mara Salvatrucha” na América Latina
A história da gangue começou com imigrantes que fugiam da guerra civil de El Salvador na década de 80 e ficavam literalmente prensados entre a esquerda e o governo militar. Alguém lembrou de Al pacinho em Scarface (embora cubano) ? Hostilizados por outros jovens da região de Los Angeles, eles decidem formar seu bando “mara”, enquanto “salvatrucha” é o apelido que identifica salvadorenhos.
Aqui no Brasil, com as mulheres do funk, a principal representante chola é Tati Zaqui.
Tati Zaqui, principal referência chola no Brasil.
Chola hispânica
Por aqui o pessoal do skate incorporou muito do estilo cholo/chola, até porquê o gosto para música mudou de punk rock para rap e hip-hop. E ainda, funk.
Vai fera, achando que toda essa herança é meramente skate…Vamos misturar cultura lowrider, rockabilly, hardcore e nossas raízes latinas.
Uma chola é praticamente uma pin-up latina, só que com muitas referências hip-hop e culturais/locais. Uma chola (assim como os cholos) não leva desaforo para casa, é rebelde, tem um jeito bem específico de falar (o que torna especial a identificação com a periferia no Brasil). O animal preferido é o cachorro, o pit bull. Ele(a)s também tem um especial amor pela família, que deve ser unida e acima de qualquer traição. Família também é quem fecha junto em todas ocasiões, como amigos.
Arte de Rik Lee define bem a cultura cholo
Cholas em estilo pin-up: delineador, batom vermelho ou rosa, bandanas e argolas na orelha. Tatoos no estilo “lettering” quase sempre estão presentes.
Não podemos esquecer o amor desse grupo por carros antigos como pontiac, impala e oldsmobile. Os lowriders são fãs das mulheres, festas e carros (preferencialmente modificados). A população hispânica de Los Angeles, já em 2008 contava com 30% da população. Dos carros dos anos 50 e 60 a suspensão dos veículos é substituída pela hidráulica que permite ao apertar um botão subir e descer dos chassis dos quase sempre coloridos veículos (low and slow) ou baijito y suavecito.
O cantor Marilyn Manson já incorporou um estilo gótico cholo no clipe de “Tainted Love”, com direito à jóias, dentes de ouro e “low and slow” em seu carro.
Os autênticos cholos e seus carros
O som que toca nos carros é geralmente hip-hop, não necessariamente cantado por negros mas chicanos como Mr. Capone-E. E os cholos latinos curtem as companhias latinas, não as mulheres brancas divulgadas com o mesmo estilo em revistas na mídia. Alguns lowriders aproveitam a visibilidade de seu estilo e seus carros para chamar atenção para exigir a legalização de hispânicos nos EUA. César Estrada Chávez foi um dos mais emblemáticos militantes pelos direitos civis dos mexicanos na década de 60.
O sindicalista César Estrada Chávez
Ele possuía um Chevrolet Impala, sempre depositou as esperanças políticas no mais antigo grupo de lowriders de Los Angeles, o Duke’s Car Club. Era um grupo de imigrantes orgulhosos que com seus carros brigavam por mais segurança em bairros hispânicos da Califórnia.
Só para terminar, uma leitura da cultura cholo no clipe da dupla Die Antwoord. É engraçado e sério ao mesmo tempo! Lembrando que o ZEF é uma cultura de periferia na África do Sul, bem semelhante ao funk no Brasil. Eles são geralmente jovens brancos que não aceitaram ou participaram do apartheid, convivendo pacificamente com os negros sem nenhum tipo de preconceito e incorporando culturalmente suas influências. Então há espaço para pessoas não necessariamente dentro do padrão de beleza, mas imperfeitas como na realidade. Uma pegada hip-hop e gangsta (especialmente na valorização do graffite e pichação). Note o estilo inteiramente cholo do namorado de Yolandi Visser no clipe, além da crítica social sempre presente ao machismo de seu irmão (seu parceiro de banda Ninja). Vemos também a valorização do motocross e da cultura lowrider pelo namorado de Yolandi. É interessante esse viés de resistência dentro da periferia que se manifesta culturalmente em um estilo que muitos alternativos que curtem rock ainda possuem preconceito e por isso mesmo não entendem. Acredito que isso advém do fato do estilo gangsta estar relacionado à vida no crime. Além disso temos a maneira como estilos musicais como o funk são criticados por falar de sexo, mas a mesma sociedade hipócrita aceita temas semelhantes em estilos musicais como pop e rock, diminuindo o funk inconscientemente por estar na favela. Mas devemos lembrar que esses mesmos indivíduos são frutos de um meio de poucas oportunidades, em que sua distração é essa cultura que se identificam. É impossível falar de gangsta sem falar da maneira que a população mais pobre é tratada pela sociedade. E isso só pode ser entendido por quem vive nesse meio.
Under the Skin (Sob a Pele)
Há anos as pessoas me perguntam se sou feminista na internet como se fosse uma agressão e até com surpresa. Lembro que alguns homens que hoje se tornaram meus amigos, faziam menção a minha aparência para diminuir, como se eu nao pudesse ser feminista por causa dela. Eu estudava o feminismo ardentemente, a ponto de fazer um projeto de mestrado sobre. Ao mesmo tempo eu sempre ficava em dúvida, será que sou mesmo feminista? Tem várias coisas que eu não concordo com o feminismo. Mas eu tenho mais certezas que dúvidas. E sabe como eu entendi o feminismo? Nos relacionamentos amorosos com os homens. Eu sempre fui amiga deles, desde que eu fosse mais um homem no grupo. Eu não tenho raiva dos homens, tenho muitos amigos e a maior parte possui uma mentalidade incrível. Tenho adiado esse post pois queria prepará-lo antes com posts um pouco mais esclarecedores e leves sobre a questão homem e mulher.
A verdade cruel é que muitos homens e muitas mulheres continuam separando as mulheres em classes e sendo machistas muitas vezes. Mas nem todo(a)s, ainda bem!
Sim, existem muitos tipos de mulheres. Cada uma em seu estereótipo, mesmo que não aceitemos não há muito o que fazer sobre o que somos e o que pensam sobre nós. Meus últimos posts tem sido uma abertura para falar desse filme que vi há algum tempo, mas é muito pertinente atualmente. É um dos filmes mais belos e inteligentes que já vi. “Under the Skin” ou “Sob a pele” de Jonathan Glazer é um filme com a Scarlett Johansson. E penso que não poderia ser outra atriz. Ela mesmo um estereótipo de mulher sexy, uma Marilyn da nova geração e também extremamente talentosa. Tem uma postura bem firme em nao ceder a magreza excessiva, abrindo mão de sua feminilidade. Recebeu críticas horríveis em relação ao seu corpo com esse filme, como se esperassem que o corpo dela fosse mais belo. É um tanto machista para a arte que a moça faz nesse filme, rebaixar o entendimento dele ao nível tão fútil. Além de ser uma grande atriz, ela é uma bela atriz, usando seu belo corpo. Sim, ela interpreta tão bem nesse filme, que não vemos a nudez da atriz literalmente, mas como metáfora. Por isso o titulo – Sob a Pele.
Todas as mulheres já se perguntaram como seria se gostassem delas sob a pele.
O fato de a moça ser uma alienígena no filme é uma metáfora também, para discussões interessantes sobre o posicionamento da mulher com a questão do amor e da sexualidade. Vemos isso muito bem dividido no filme, na primeira parte em que Scarlett é uma motorista que “caça” homens para levar embora para seu planeta. Cada um possui uma conduta diferente, um jeito diferente e uma opção diferente. Ela encontra homens que a recusam porque são comprometidos, homens que escondem a aliança, homens bonitos como ela e outros normais.
Scarlett Johansson – uma alienígena que nao precisaria buscar niguém, empreende uma busca que nunca acaba.
E na cena mais poética na minha opiniao, ela tem um diálogo muito bonito com um rapaz que possui deficiência no rosto chamada neurofibromatose e por causa disso nunca foi escolhido por mulher alguma. Mais que uma metáfora de uma alienígena nós temos as etapas de seducao, em que os homens não são nada mais que objetos nas mãos de Scarlett. E essa metáfora é representada em um líquido escuro em que sao afundados enquanto a seguem. Scarlett aparece inteira em posição sólida e sexy. A trilha sonora é angustiante. E depois desse rapaz com neurofibromatose ela tem a real mudança em sua história na Terra como alienígena. Ela vive a real Epifania, como se comparassemos a sua história às narrativas de Clarice Lispector.
O belo e o grotesco, uma alegoria do Romantismo – A Bela e a Fera, Corcunda de Notre Dame e Esmeralda… Através do belo magnânimo é revelado que embaixo da pele há um outro tipo de beleza.
Posteriormente temos a mulher na relação natural com o homem. Scarlett descobre o interesse amoroso e a sexualidade, de fato com um homem que parece acolhe-la. É interessante acompanhar sua confusão mental, já que no momento da caça ela é altamente fria e imparcial. Aqui ela mostra uma faceta humana e sensivel própria da mulher. A que sente medo e ao mesmo tempo prazer em se entregar. Nessa parte do filme Scarlett é acolhida e cuidada por um homem que a trata muito bem, que tem um interesse real nela como uma pessoa e preocupações com o que ela sente ou pensa. Muito além da atração sexual que ele sente por ela.
Pela primeira vez Scarlett, a alienígena perde o controle sobre suas ações. E aí ela se desespera.
Em um terceiro momento, o mais agressivo de todos, Scarlett é caçada. E se torna vítima em uma cena chocante em que é revelado o que esconde sua pele. Durante muito tempo eu não via algo que mexesse tanto comigo. É uma cena de tentativa de estupro que acaba de uma forma extremamente triste. Não é uma cena que explora a violência, mas uma cena muito forte e ao mesmo tempo muito bem construída. A mulher é descoberta como uma alienígena, embaixo de sua pele ela revela o que realmente e, sendo cruelmente punida por isso. É uma cena triste e isolada que fiquei pensando durante semanas. Talvez porque quase toda mulher já tenha passado por provável situação, não com estupradores de verdade, mas com namorados ou caras com quem dormiram que não souberam a hora de parar ou pararam com dificuldade ou revolta. Ou talvez tenham sumido do mapa logo após dormirem com elas.
Na pior conduta de todas, a alienígena descobre o amargo sabor da violência e do preconceito.
Vale lembrar que todo o filme possui uma atmosfera belíssima com bonitas estradas e paisagens, tornando a fotografia muito agradável e próxima de nós. Inclusive a cena forte que descrevi. É um filme silencioso, dramático, intenso, psicológico e que possui poucos mas precisos diálogos.
O filme Under the Skin é uma corajosa produção que diz muito sobre feminismo, mas também sobre as relações que as mulheres nutrem com os homens e talvez a nítida confusão mental que as mulheres e homens se encontram atualmente, massacrados pelas convenções da sociedade e o que esperam um do outro. E um filme filosófico, que não empurra a culpa para ninguém apenas explana a ideia do quanto o ser humano e frágil em suas relações pessoais.
As mulheres e o rock
“Eu sou Miss Mundo, alguém me mate/ Me mate, pílulas, ninguém se importa, meus amigos…?/Eu sou Miss Mundo, me assista quebrar e me assista queimar/ ninguém está ouvindo meus amigos/ eu faço minha cama onde deitarei/ eu faço minha cama onde morrerei”. (Miss World – Hole)
A capa do álbum “Live through this”: Uma miss, aparentemente linda e emocionalmente instável.
Desde 2013 um amigo paulista que conheço há muito tempo havia me colocado em um grupo de mulheres bonitas do metal, grupo muito famoso que não postarei o nome aqui, mas quem participa ativamente do facebook deve saber. Eu nunca me achei bonita, por isso acho legal quando acham e às vezes até entro na onda, embora acreditar seja outra coisa. Conheci muita gente legal no grupo e outras pessoas nem tanto. Cheguei a ter fotos na página oficial (e ainda tenho). Mas algo começou a me incomodar no grupo esse ano, a falta de aceitação e respeito que gerava um bullying imenso, de caras (que não eram nenhum padrão de beleza) e garotas (que se achavam perfeitas). Certo dia vi uma garota sendo hostilizada por ter postado a foto de uma modelo gordinha, ela começou a ser ofendida sendo chamada de gorda, feia e eu que a defendi também comecei a ouvir. Teve uma moça que disse que era melhor que eu, mais bonita porque era mais alta e mais magra (eu tenho 1,70 e 67 kg) e além disso era loira natural. Poucos foram os interessados em nos defender e ao invés de os bullers serem expulsos da página quem foi expulsa fui eu e todos que defenderam essa menina – dois envolvidos diretamente na confusão e mais dez indiretamente (que então virou minha amiga no facebook). Vivemos uma época difícil para os sonhadores, como diria o filme Amélie Poulain. Por um lado minha época nesse grupo foi boa porque abriu algumas portas, inclusive com trabalhos de fotografia e como modelo. Mesmo eu não estando em meu melhor momento tanto esteticamente quanto psicologicamente. Por outro foi traumatizante, porque descobri que mesmo no meio do metal, do rock ainda existem pessoas que se imaginam superiores às outras. E o meu choque foi ver esse índice maior de pretensa superioridade no meio alternativo. É como se você tivesse que seguir todos os padrões estereotipados de beleza para ser aceita, ser bonita, ter o corpo perfeito, ser meiga, ter atitude, ser legal, ter piercings, cabelo colorido, tattoos, um estilo legal…são tantas exigências de como deveríamos ser que isso me cansa, porque anteriormente você era o que era, hoje você deve ser uma boneca plastificada. Antigamente bastava você gostar de rock e ser você mesmo. Antigamente você fugia dos padrões para ser você e hoje você cai dentro deles querendo ser você. Você tem que ser hiperreal, perfeita. Só que alternativa.
Uma mulher alternativa, pronta para o consumo.
Voltando à garota que foi ofendida, é uma menina, ainda estudante, uma adolescente sendo ofendida por adultos. Isso me faz lembrar do caso de uma mãe que me pediu ajuda ano passado na escola porque a filha dela, uma garota linda, inteligente e fã de rock, estava se cortando e ela não sabia se era influência da Demi Lovato, de uma amiga ou se ela realmente era bipolar. Ela falou que as meninas me admiravam muito, porque gostavam de mim e do meu estilo. Que eu poderia ajudar, realmente ajudei no decorrer do ano. Eu nunca fui um exemplo para ninguém, lembro que toquei no assunto em sala e a menina me perguntou se eu já tinha feito algo de mal para mim mesma, eu eu logo soube porquê. Lembrei então de quando eu tive um início de anorexia aos 17 anos, eu fiquei muito magra, 57 kg e simplesmente não sentia fome e parece que quanto mais magra eu ficava mais me elogiavam e me achavam bonita. E até hoje eu tenho um reflexo disso, quando engordo me acho feia e isso mexe com o resto da minha vida, confesso. Hoje faço musculação, corrida, mas sei que nunca serei magra. Naquela época eu ouvia Silverchair e me identificava completamente com o Daniel Johns, porque ele passava pelo mesmo que eu de uma maneira muito pior. O que estou querendo dizer é, que devemos nos responsabilizar pelo que fazemos direta ou indiretamente com adolescentes na internet, que já é uma época bem influenciável e repleta de insegurança. Onde estavam os adultos quando aquela garota precisou de ajuda em tal grupo na net?! Enfim é muito mais fácil fingir que nada acontece. E ver a multidão de tumblrs criadas por garotas que não se aceitam e buscam soluções como anorexia, bulimia, automutilação…e acabam frustradas, porque não dá para ser tudo que a sociedade exige.
Boa era a época que se você se sentia diferente bastava gostar de rock, desenhar e ter um estilo fora do comum.
Quando eu me formei em Artes eu não parava de ouvir Distillers e Brody Dalle era meu exemplo, era mulher, bonita, tatuada, sexy, cantava e tocava em uma banda punk. Em uma época que nada disso tinha sido popularizado e nem tem tanto tempo assim. Hoje tem as Suicide Girls que foram popularizadas mas já existem há um bom tempo, que para o bem fez com que aceitassem mulheres com gostos e aparência diferente, mas também tornou tudo comercial e plástico. Porque há uma imagem vendida da mulher linda, tatuada e sexy. Nesse ponto acho que os anos 90 fizeram mais pelas mulheres, Theo Kogan do Lunachicks já era tatuada nessa época e era realmente uma mulher do universo alternativo. Assim como as meninas do L7. Todas as mulheres dos anos 80 aos 90 fizeram mais por nós com seu engajamento político, música, bandas e estilo que toda uma geração de modelos alternativas dos anos 2000.
Hoje as moças migram da exibição na internet, sem nenhuma ligação com o rock, fazem várias tattoos, pintam o cabelo de cores diferentes, vão parar no meio supostamente alternativo mas não experienciam aquilo tudo: as bandas, os shows, as artes, a política (presente no discurso punk e metal), o universo alternativo como um todo… Na net teve um esforço válido em valorizar as mulheres do universo do rock, através de grupos mas ainda há uma divisão muito clara no rock, ou você é uma mulher consumível esteticamente ou você não é uma mulher respeitada. Ou seja você só é valorizada pela música se for linda e se você for linda e se vestir de maneira um pouco mais liberal você é uma puta. São várias comparações no facebook de mulheres do rock que são comparadas com funkeiras, apelam dizendo que não precisam mostrar o corpo porque tem talento e esquecem que muitas vocalistas, guitarristas, bateristas que praticamente inventaram o rock feminino mostram o corpo, tal como Lita Ford, Doro Pesch e Great Kat para ficar em três. Os mesmos metaleiros que visitam páginas como a que eu fazia parte, que expõem beleza feminina no rock criticam as mulheres por se vestirem de maneira sexy, as desabonam pelo número de likes e comentários masculinos que recebem em fotos, como se isso as transformasse em mulheres “fáceis” e desabonasse o seu caráter. O pior são as mulheres que fazem o mesmo, identificando qual mulher é vulgar ou não e apontando com quantos homens ela já esteve usando como critério apenas a roupa ou um comportamento mais liberal. Os caras adoram as tatuadas do SG mas tratam as garotas alternativas que ficam como prostitutas apenas por terem um estilo diferente. Então é preciso coerência dentro do universo alternativo, porque as pessoas andam perdidas sociologicamente, filosoficamente e isso se reflete em seu caráter e na maneira que se comportam em sociedade. Já digo que o post é polêmico, sim parece contraditório mas não é. Quem acompanha meu blog sabe disso.
O lugar onde tudo termina
Há algum tempo eu tento escrever sobre esse filme fantástico, na verdade desde o início do ano quando tive a oportunidade maravilhosa de vê-lo. Eu sou muito fã de Eva Mendes e Ryan Gosling. Esse filme me comoveu muito, talvez porque eu estou analisando os diversos setores da minha vida. Nos últimos anos eu não tenho gostado muito da maneira que vivo, em uma rotina exaustiva de trabalho e sem ter tempo de fazer o que eu gosto. É certo que a qualidade de vida no setor financeiro mudou para melhor, mas não vivemos somente disso. Depois que minha mãe morreu eu coloquei na minha cabeça que eu não posso mais perder meu tempo. Nunca houve metáfora mais correta que da ampulheta, não há mais tempo para tentativas de ser feliz. Ou eu me satisfaço com minha vida ou era melhor não ter existido. Como a segunda opção não é possível no meu mundo, eu só tenho a primeira alternativa.
O filme de “O lugar onde tudo termina” fala sobre opções de cada um, nós sempre achamos que temos escolha, mas às vezes ela não é a mais correta e acaba reverberando na vida de quem vem depois, como os filhos. Eu sempre achei que o cara que estava na foto com minha mãe e minha irmã (quando era bebê) era o pai da minha irmã, mas uma semana depois que minha mãe morreu minha irmã disse que não era. Ela disse que não quer conhecer o pai, que isso era uma resolução tranquila para ela. Aquele na foto era um pai para ela, mesmo que não fosse biológico. A mãe sempre falou bem dele mas ela nunca chegou a conhecer, já que se separaram. Minha mãe nunca contou sobre o passado e algumas coisas foram embora junto com ela. Talvez seja por isso que eu e minha irmã sejamos figuras femininas fortes, nós não tivemos uma figura paterna forte. Meu pai era completamente dependente da minha mãe que era líder e agora depende de nós cuidar dele.
A vida de Ryan Goslin no filme é desregrada. Ele é um motociclista, o melhor de todos no que faz. Mas está completamente perdido. Ele tem a beleza, tem o estilo, trabalha em um parque de diversões em um globo da morte. Mas está perdido da vida e encontra um motivo para viver com um acontecimento em sua vida. Esse acontecimento é o seu ex-caso que decide visitá-lo e ele redescobre um interesse pela moça. No momento em que ele está decidido à partir da cidade, ele tenta visitá-la em casa. E descobre que tem um filho com ela, através de sua “sogra”. Luke (Ryan Gosling), entra em modo desespero ao saber que é pai e vê a perspectiva dele voltar a namorar Romina (Eva Mendes), por que a faísca inicial que sentia por ela é despertada pelo seu lado paterno, pela responsabilidade que ele sente pelos dois. Em certa parte do filme ele pronuncia: – Todos precisam de um pai Romina, eu não tive um e veja o que eu me tornei.
Luke e Romina
Luke se despede do circo e quer que Romina vá junto com ele e seu filho, porém Romina não sente segurança em Luke. E acaba substituindo o rapaz por um pai de família que seu filho realmente precisa (e não pelo cara que ela gosta). Sem emprego, a semente da ideia deturpada de ganhar dinheiro é plantada na cabeça de Luke por seu chefe atual, um mecânico de motos que descola um emprego mal remunerado ao rapaz. E aí as encrencas de Luke começam, justificadas pelo filho que ele tem para sustentar e um bom pai que ele tenta ser.
Mas seu temperamento explosivo e impulsivo mais afasta Romina e consequentemente seu filho, que ainda é um bebê. Mas isso é apenas a origem da história, como falam por aí há acontecimentos que a razão desconhece e coincidência é um termo muito simples para determinadas coisas que acontecem na vida e reverberam na vida dos que amamos, sejam eles os filhos ou quem nos apaixonamos.
O filho de Luke, Jason: a procura pelo pai que a mãe omite é a procura por ele mesmo e quem ele é. A descoberta mais decepcionante de sua vida não é sobre o pai, mas sobre o que fizeram com ele.
E os segredos dos pais reverberam em uma amizade ingênua entre dois filhos de pais diferentes, com destinos diferentes: um trágico, heróico e condenável e um honroso, heróico e também condenável. Qual a diferença entre os dois pais? Se o filho do “bandido” tem condutas esperadas de um garoto de sua idade e humildade, fruto de uma família simples, enquanto o filho do “policial” tem condutas imorais ou amorais, um ego maior que a empatia por qualquer pessoa que não possa tirar algum proveito. Coincidências demais para achar que as coisas acontecem por acaso.
Os filhos de Avery Cross (Bradley Cooper) – AJ (Emory Cohen) e Luke (Ryan Gosling) – Jason (Dane DeHaan): amizade ou vampiragem emocional por parte de AJ?
Luke e Avery, a sociedade te dá o papel que você deve interpretar. Mas nada é tão fácil quanto parece.