Gottfried Helnwein
Há muito tempo quero falar desse artista, um dos meus favoritos na arte contemporânea. Provavelmente você também deve conhecê-lo sem saber quem ele é. Trata-se do homem que deu corpo às pirações conceituais de Marilyn Manson em The Golden Age of Grotesque. Ele é um austríaco nascido em Viena, artista plástico que trabalha com diferentes linguagens, performances, instalações, pintura e fotografia. Outra marca de Helnwein é utilizar diversos meios comunicacionais, tecnologia. Sua formação foi na Universidade de Artes Visuais em Viena ( Akademie der Künste Bildenden, Wien). Em seus primeiros trabalhos era utilizada a técnica de aquarela, retratando crianças feridas em espaços públicos, como na cidade de Waterford. As crianças também eram tema das performances. Os temas de Gottfried são controversos, suas preocupações são políticas., sociológicas e psicológicas. Um de seus temas recorrentes é o holocausto. Helnwein é inspirado por dois outros artistas que trabalham os mesmos temas sobre corpos suscetíveis a lesões, dores e morte, os vienenses Hermann Nitsch e Rudolf Schwarzkogler. Além do expressionista Egon Schiele.
O artista Gottfried Helwein
Auto-retrato de Egon Sciele e auto-retrato “29” de Gottfried Helnwein
O conceito principal da obra de Helnwein é a condição humana, sua metáfora é a criança ferida não apenas na superfície, mas a partir de dentro. O artista quer perturbar emocionalmente com a imagem de uma criança marcada fisicamente e emocionalmente a partir de seu interior. Steve Winn, crítico da revista Chronicle Arts and Culture Critic descreveu a arte do artista como repleta de imagens hiper-realistas que sondam o subconsciente, a sexualidade, vitimização e assombramento. Harry S. Parker III, diretor do museu de São Francisco fala um pouco sobre o conceito do artista:
“Para Helnwein, a criança é o símbolo da inocência, mas também de inocência traída. No mundo de hoje, há as forças malévolas de guerra, pobreza e à exploração sexual, além do entorpecimento predatória da mídia moderna corrompendo a virtude das crianças.”
Instalação em Waterford “The Last Child” – 2008 (fotografia digital).
Sem título, 1987. Polaroid.
Beautiful Victim, I – 1974. Aquarela sobre cartão.
Marilyn Manson, 2003. Fotografia.
Helnwein quer nos fazer refletir sobre os temas que escolhe, muitos acham que o museu deve oferecer uma experiência tranquila de beleza (leia Kant) dissociada do horror do mundo. Como diria Jung, lançar luzes sobre as trevas do mero ser : essa é a responsabilidade da arte , lidar com temas polêmicos e perturbadores que fazem as pessoas pensarem.
O artista também absorve elementos das histórias em quadrinhos, ele foi criado lendo gibis da Disney no pós-guerra. O artista afirma que a cultura pop do Pato Donald ensinou mais a ele que qualquer escola de arte. Julia Pascal, repórter do The New Statesman escreveu que na aquarela Peinlich (embaraçoso), uma uma menina dos anos de 1950, de vestido rosa, carrega uma revista em quadrinhos. O apelo inocente é destruído através do corte que deforma seu rosto e lábios. É como se o Pato Donald tivesse conhecido Mengele.
Peinlich (embarrassing), 1971. Lápis grafite, lápis de cor e aquarela sobre papel.
O Mickey de Helnwein é mais sombrio, traz referências à guerra e ao nazismo, pintado em tons de cinza. Mickey também será utilizado em “The Golden Age of Grotesque” de Marilyn Manson em uma série de fotografias de Helnwein. O conceito de Marilyn Manson para o The Age og Grotesque, era a arte degenerada. Os nazistas consideravam toda arte que não pertencesse aos padrões arianos (a arte moderna) como arte degenerada. Isso inclui também os artistas que faziam a chamada “arte degenerada”, o leque dos expressionistas, artistas como Otto Dix (que lutou na guerra e fazia de sua arte uma manifestação dos horrores que viu ali), Van Gogh e os dadaístas. A imagem de Mickey Mouse também foi considerada degenerada pelos facistas em 1930.
Otto Dix, Skull, 1924.
Mickey Mouse
The Golden Age, 2003
The Golden Age I,2003. Fotografia.
The Golden Age II, 2003. Fotografia.
Pessoas como Andy Warhol, Muhammad Ali, William Burroughs e a banda alemã de metal industrial Rammstein já posaram para suas fotografias. O artista também fez uma paródia da pintura Nighthawks de Edward Hopper, intitulada Boulevard of Broken Dreams. Essa pintura gerou a música do Green Day de mesmo nome.
Rammstein-II – 1998. Fotografia.
Através das imagens de Gottfried Helnwein, podemos notar referências como Goya, Bosch, Beuys, John Heartfield e Mickey Mouse, filtrados através de sua infância no pós-guerra em Viena. A violência continua a ser a base de seus temas, discutindo o sofrimento físico e emocional causado por um ser humano a outro.
O repórter Mitchell Waxman escreveu 2004, no jornal judaico em Los Angeles:
“As imagens mais poderosas com os temas nazismo e holocausto são de Anselm Kiefer e Helnwein, ainda, o trabalho de Kiefer difere consideravelmente de Helnwein em sua preocupação com o efeito da invasão alemã na psique nacional e as complexidades da herança cultural alemã. Kiefer é conhecido por imagens evocativas e de paisagens áridas alemãs. Mas Kiefer e Helnwein são ambos informados pela experiência pessoal de crescer em um pós-guerra, em país de língua alemã … William Burroughs disse que a revolução norte-americana começa em livros e na música e posteriormente em agentes políticos para implementar as mudanças após os fatos. Podemos também adicionar arte à essas mudanças, a arte de Helnwein.
Uma das pinturas mais famosas da obra Helnwein é Epiphany I – Adoração dos Magos (1996, óleo e acrílico sobre tela, 210 cm x 333 cm, Denver Art Museum). É parte de uma série de três pinturas: Epiphany I, II Reis (Adoração dos Pastores), Epifania III (Apresentação no Templo), criado entre 1996 e 1998. O quadro representa o Dia de Reis , com presença de oficiais da SS , a mãe e um bebê. A julgar pela aparência e gestos, eles parecem estar interessados em detalhes como a cabeça, rosto, costas e genitais. O arranjo das figuras refere-se claramente à iconografia da adoração dos três Reis Magos, como eram comuns no alemão, italiano e holandês nas obras do século 15. Julia Pascal escreveu sobre este trabalho no New Statesman: “Madona e o filho são cercados por cinco oficiais SS em reverência da idealizada virgem loira. O bebê (Cristo ou anticristo?), que está no colo de Maria, olha desafiadoramente para fora da tela. ” Muitos acreditam que nessa obra, o bebê representa Adolf Hitler.
Epiphany I, adoration of the Magi, 2001. Fotografia digital. Kilkenny Castle: Kilkenny Arts Festival
Depois de observar Epiphany I, vale ir no youtube e dar uma olhada na versão de Marilyn Manson de Personal Jesus do Depeche Mode. Esse videoclipe é do The Golden Age of Grotesque e há uma clara referência a influência e uso de poder de grandes líderes, bons e maus. Há imagens de líderes mundiais expostas na tela enquanto Marilyn e sua banda tocam:
Sugestões bibliográficas:
Página oficial de Gottfried Helnwein: http://www.helnwein.com/
Sobre a instalação Epiphany I : http://www.helnwein.com/presse/selected_articles/artikel_2630.html
Degenerate Art: Simbologias de Marilyn Manson em The golden Age of Grotesque
Curiosidades de The golden Age of Grotesque: http://my-cryptorchid.blogspot.com/2009/02/curiosidades-vii.html